Minha amiga quer morrer

quinta-feira, setembro 14, 2017 Ana Luisa Maya Uludüz 0 Comments


"Eu preciso estar sozinho."

"Não estou preparado para um compromisso agora".

"Você precisa de muita atenção, eu não posso dar o que você precisa agora".

"Eu sou fruto de um mau relacionamento, não acredito em casamento ou relacionamentos duradouros".

"Estamos em sintonias diferentes, em momentos diferentes".

"Você está me sufocando".

"Preciso de um tempo para pensar, não consigo ao seu lado".

Quem é o ser humano que já não teve o coração partido em mil pedaços ao ouvir algumas ou todas essas frases num término de relacionamento? Eu já, não somente uma vez. E sofri todas as vezes. 

Uma amiga hoje me inspirou depois de um longo tempo sem escrever e aqui estou eu, me expondo, me abrindo por ela e por cada uma ou um que apostou todas as fichas num barco prestes a naufragar. E o que tenho a dizer a ela e a vocês é que o mais importante depois de ouvir essas frases e chorar, se dilacerar por dentro, é catar o que resta da sua dignidade e viver. Sim, viver a sua vida. Ninguém, mas ninguém é tão importante nesse mundo a não ser aquela pessoa que é você. Não é aquela transformação no espelho, os olhos inchados e as olheiras profundas. Não é o tempo doado em vão. Não são horas a passar arrastadas enquanto o ser amado não chega, não são os dias sem nenhum telefonema. Não é o desprezo. Não é o passado. É o que é você hoje, junto com o aprendizado que tirou disso tudo.

Eu aprendi que todas aquelas frases juntas só querem dizer uma coisa: imaturidade. Incapacidade do outro de se doar e empatizar com a minha dor. Pessoas que amam demais, que são intensas, que apostam tudo, às vezes esperam do outro tudo na mesma proporção, pra isso os adultos conversam e se situam. Os imaturos cozinham em banho-Maria. Quantas conversas francas eu tive com amigos e ouvi confissões do tipo "estou com ela mas não sei até quando, não é isso que quero na minha vida, não me vejo com ela no futuro". E aí você vê os dois juntos e o olhar dela é de casamento iminente ou de muita conexão. Porque alimentar esperanças quando não há nenhuma? Covardia? Medo? Ou somente a merda da imaturidade e um foda-se permanentemente "mode on"? Pode ser tudo junto. Digo com isso que pessoas sadias e prontas pra assumir um compromisso pra vida (com ou sem casamento, com ou sem filhos) simplesmente o dizem. Verbalizam, se mostram prontas. Não é necessário o joguinho do quem irá dizer "eu te amo" primeiro. Pessoas adultas e preparadas expressam sentimentos quando os têm, os detectam com precisão. 

Por isso, minha amiga, eu te peço. Não morra. Muito menos de coração partido. Eu quero que você possa um dia comigo rir disso tudo. Que até chore de novo, muitas vezes, mas que esteja inteira. Porque só poderás ser capaz de enfrentar as dores do mundo respeitando-te, amando-te muito e sempre. Aí sim serás feliz com ou sem alguém, no alto de uma montanha ou num parque de diversões. Na sua cama sozinha ou com filhos, cães e gatos. Doe-se quando e como quiser, seja intensa, colorida e livre, mas nunca esqueças de preservar o teu bem mais precioso: o teu amor próprio.

No mundo louco em que vivemos o normal é pensar que não há mais saída nem esperança. Mas há, acredite, a partir do momento em que desistimos de procurar, consertar o outro e arrumamos a nossa casa, a nossa desordem do ser. Aí sim podemos nos solidarizar e ajudar o outro. Não desanime, não há mal em buscar ajuda. E eu estou aqui, sobrevivente de muitas dores, pra lhe dar a mão. Fica comigo.

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