Chega, São Pedro!
Gente... Eu vô lhi dizê uma coisa: eu não lhi digo é nada! (Com sotaque da minha saudosa Bahia, Brasil). Enquanto no Brasil o povo se prepara para um casaquinho, comer um fondue, dormir com edredon, aqui nas zoropa todo mundo já baixou os biquínis, vestidinhos e sandálias e já deu um tapa no bronze... #soquenão né Portugal?
Nós, estrangeiros e portugueses que vivemos por cá, já não podemos mais com tanta chuva e frio. Escrevo debaixo das cobertas nesse momento, com um baita resfriado oportunista, a moral lá em baixo... Mas vamos lá, porque uma coisa recorrente na moda me fez pensar muito esses dias: as cores mais usadas no inverno. Farei então uma análise direto do túnel do tempo, acompanha:
"Vai que a carroça já passou e eu tenho que correr com essa saia?!!!"
A mocinha daí de cima representa a moda no inverno dos anos 1910. Entende-se como moda, o que as pessoas mais abastadas poderiam comprar para se proteger do frio com classe e elegância. Tava linda, tava gueixa.
"Disfarça, amiga! Limpa o coco do cavalo que você pisou na parede..."
Aí veio os anos 20, essas mocinhas seriam consideradas bem pra frente, com suas bombachas e culotes, dando mais mobilidade sem deixar de lado a graça, a bossa, que a roupa deve ter.
"Só parei pra respirar, calma aí"
Os anos 30 deixaram a "chouriçagem" um pouco de lado (adoro esse termo português pra descrever as muitas camadas de roupa que usamos no inverno: "fulana anda toda enchouriçada!") e resolveram investir nas roupas mais acinturadas, mostrando as curvas. O nascimento das divas.
"Porque eu não chamei o Uber? #chatiada"
Vem os anos 40 com um enchouriçamento glamouroso, o uso de peles nobres (naquele tempo não tinha Peta pra explicar aquela senhora que o seu casaco foi feito com o esfolamento a sangue frio de 50 doninhas vivas), lãs e ar hollywodiano.
Anos 50 e mais cortes e poses dramáticas. Tenho curiosidade em saber o que se usava em casa, já que a era do moletom e meião ainda não havia começado.
"Quando é que chegam os boys???"
Anos 60 e todas as suas cores! Todos os casacos e chapéus são absolutamente usáveis hoje. Corre pra tirar o mofo do casaco da avó, que tá in!
"Se ajeita, miga, o boy tá vindo! Tá usando o que por baixo?"
Se nos 60 tava tudo coloridinho, nos setenta apesar de todo o flower power as meninas voltaram ao básico, com uma pitada de ousadia. Era o início da piriguetagem, que sobrevive aos dias de hoje, provando o que a ciência investigou: piriguete não sente frio.
Mil perdões, não tenho legenda pra isso.
Bancando a Glória Pires comentando os Óscares, eu prefiro não opinar. Mas se for pra dizer algo, digo que os anos 80 foram, para mim, o terror e fracasso da moda. Não consigo achar nada de bom daquele tempo... Pelo menos a música se salvava. E as piriguetes decidiram hibernar um bocadinho.
"A favor da reciclagem, o casaco é do meu pai, os calções do meu irmão mais novo."
Os anos 90 e a sem gracisse que veio com ele. A moda mais andrógina, disforme, oversized, insossa. Pelo menos exterminou as ombreiras gigantes dos anos 80. Soube que a fogueira que fizeram com elas foi a grande responsável pelo primeiro grande buraco na camada de ozônio.
"Tá um frio da gota, mas minhas canelinhas de fora são meu fator charme."
A partir dos 2000 até os dias de hoje, a coisa não mudou muito. Muita moda reinventada, a dominação das calças rasgadas, o minimalismo, a exaltação aos esportes, ao healthy living. Acho que este é o tempo que mais me agrada, não só por ter chegado a maturidade neste período, mas porque realmente é uma moda que dá mais poder de escolha, de brincar com o que há no armário da melhor forma, de garimpar peças antigas que dêem um up no visual.
E falei isso tudo pra chegar às cores do inverno. Deu pra perceber que todo inverno, em qualquer lugar do mundo, todos só usam preto, cinza, marrom? Mesmo com todas as informações, vitrines /montras apontando tendências de cores mais claras, todo mundo só veste preto?
Aqui em Lisboa, por exemplo. Estamos em uma primavera super atípica, alguns dias de sol apareceram e imediatamente pudemos ver as cores surgindo nas ruas, como as flores da estação. Basta uma chuva para o ar austero, escuro, triste dar o tom.
No passado, se a gente escavar fundo, as pessoas optavam por cores escuras por alguns motivos fortes, como a proteção contra a porcaria, pois andar na rua, cavalgar até o trabalho, eram atividades que envolviam lama - simples assim. Com neve então... Mais lama! A roupa escura não mancha, o casaco longo protege o resto do corpo. A cor escura também conserva mais o calor, já que não haviam inventado os tecidos que temos hoje, laváveis, térmicos e leves. E nem a maldita poliester : P
Então hoje, que não temos metade das dificuldades que tínhamos num passado distante pra sair de casa, precisamos de toda essa escuridão?
Alguém que trabalha desde muito cedo e o dia todo, que utiliza transportes públicos que nem sempre estão nas melhores condições de higiene, pode discordar disso e tem toda a razão, por conta daquele primeiro motivo, de se manter digno o dia todo sem ficar com a roupa toda suja no primeiro splash que o ónibus/comboio que passar numa poça de lama lhe der.
O questionamento veio depois de sentir como as cores conseguem influenciar no nosso estado de espírito. Levantam a nossa moral, renovam as esperanças, hehehehe! O que eu mais vejo no setor de alimentação de um shopping quando está frio é gente de preto. E sisuda. E mal humorada. E carrancuda. Se tem sol estão todos sorridentes, energéticos, positivos. E se formos olhar pra toda essa retrospectiva, com exceção dos 60 e 80 em diante, nas décadas a moda sempre prevaleceu a jogada segura. Tenham certeza que haviam ofertas de roupas mais claras até mesmo a partir dos anos 50, mas porque se destacar? Era preferível o mais seguro, se mesclar com a multidão.
Há dois anos atrás, quando morava no Chile, num dia de alto inverno resolvi usar um casaco que tenho um caso de amor eterno: uma canadiana vermelha, de lã e com capuz. Minha mãe me tinha ofertado uma pashmina lindíssima com rosas vermelhas sobre um fundo azul elétrico.combinei com jeans e umas botas também azuis e fui passear. Nunca me senti tão invadida e observada em toda a minha vida! O mar de casacos negros me observava, mas os olhares não eram de "nossa, que combinação bonita!", mas sim de "Vermelho??? Que isso!" Olha que eu nem usava um look total white, vermelho pode até ser considerado uma cor bem invernal. Mas...
Concordo que cada um usa o que quiser, tem quantos e tantos casacos pretos quiser, só chamo à tona a influência que esse modo de vestir faz ao teu humor, escolhas, porque não dizer qualidade de vida? É não deixar que o tempo ruim lá fora tome conta do que tens dentro, entende?
O reflexo de uma atitude positiva é bom humor a quem nos rodeia é imenso, contagia, assim como sentimentos negativos. Pode parecer bobo, mas acredito nesse poder. É, acho que fui hippie em outras vidas...
E fica a reflexão, convidando a usar cores bem alegres pra chamar o sol!!!
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