O custo real

segunda-feira, janeiro 18, 2016 Ana Luisa Maya Uludüz 2 Comments



Tá, eu sei que é segunda feira, dia natural da ranzinzice, então eu me dou a licença poética hoje pra falar do documentário "the true cost" disponível na NETFLIX. É que acompanho muita, mais muita blogueira de moda, sabe gente. E a coisa que eu mais me choco e me irrito é com o estímulo ao consumo que elas pregam. Sem censura, sem moral, sem noção. A palavra must have, tem que ter, não vivo sem, sai dos teclados à borla, na baciada, poucas são as que sinalizam numa publicação que foram pagas para fazer aquela publicidade ou falar de tal roupa ou marca. Aí vai você, esclarecida ou não, louca em cada loja que tiver a procura daquele mesmo item sem precisar, sem ter grana pra isso, sem poder. Porque as nascidas em berço de ouro podem e acreditem monas, elas não vão pros saldos da zara. Não passam horas esperando a abertura da H&M. Mas não tô aqui pra defender as ricas, pois poder é algo bem diferente de consciência consumista. Falo aqui das fast fashions como Zara, Mango, H&M, Primark, Forever XXI, Wallmart, que deram de bandeja o poder de compra a uma classe social que não é considerada pobre, mas também não chega nem perto do Jet Set. A satisfação emocional e psicológica  por ter comprado 5 camisas por menos de 100€, sendo que numa loja de artigos de luxo se paga 300€ em média por somente uma é inabalável, a ponto de nem se importar mesmo com a origem dessas camisas, bem retratadas no documentário.
Eu sei que já toquei no assunto por diversas vezes, que isso se torna chato, mas é assim que assimilo e me educo sobre essa questão, e planto a semente em você que lê. Então termino o texto com o resumo sobre uma das personagens reais do documentário: Fulana é mãe solteira, tem 24 anos, é nativa e vive com sua filha em precárias condições em Bangladesh, numa cidade pequena que é movida pela indústria têxtil, como tantas outras ao redor do mundo. Às vezes ela não tem com quem deixar a criança, que vai com ela para a fábrica e lá fica, em meio a um ambiente perigoso por conta das máquinas e insalubre por conta dos produtos químicos adicionados ao algodão. Ganha alguns cêntimos por cada camisa que costura, não tem férias, hora de almoço, fim de semana, auxílio maternidade ou de saúde. Já perdeu muitas colegas na mesma condição em acidentes terríveis, como o desmoronamento de um edifício em péssimas condições que matou mais de 1000 costureiras. Decidiu montar um sindicato para exigir seus direitos e a primeira resposta não foi positiva. Foi fechada na fábrica junto com as outras sindicalizadas e espancada por isso. Resolveu então deixar sua filha com os pais numa aldeia distante dali, pois quer que a filha tenha um futuro diferente do dela. Crê que a maior vitória em sua vida será quando conseguir ganhar 160 dólares por mês.
160 dólares eu, você e o mundo inteiro gasta num vestidinho na Zara. Que talvez tenham saído das mãos da jovem fulana.

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