Let's face the music and dance #5

segunda-feira, dezembro 07, 2015 Ana Luisa Maya Uludüz 0 Comments


Quando eu era criança, sempre fui a maior da sala. Sonhava que era a menina miudinha que todos os dias dava as mãos para a professora, sempre a primeira da fila. Ninguém ousava tentar me bater, mas as meninas se juntavam todas com os meninos para brigar comigo, porque eu era diferente. Tinha cabelos curtos por causa dos surtos permanentes de piolhos. Gostava muito de ler e as professoras me escolhiam para representar a turma. Adorava desenhar porque um dia queria pintar como o meu pai. Tudo isso era motivo de ódio e perseguição para os meu coleguinhas, quase que diariamente.
Acho que a criança nasce pura, livre dos conceitos, preconceitos e regras sociais, até que ouve o primeiro "não", ou "isso é feio". A vida nos faz o desfavor de impor diversas condições para que sejamos felizes na pele que habitamos e deixemos que os outros também o sejam. Se nos 80's os cabelos eram selvagens, hoje passamos horas na vã tentativa de um liso natural. Se as modelos dos anos cinquenta eram cheias de curvas, hoje morrem anoréxicas e a indústria da moda te impõe a doença em números. Me chamavam de sapatão/ lésbica por causa dos meus cabelos curtos e minha altura. Hoje sei que a opção sexual de alguém não define a maneira com que ela deva se comportar ou sua aparência física. Esse post nasceu já há algum tempo, fruto das minhas inquietações sobre preconceito, empoderamento feminino, entre tantos assuntos tão em alta. Aí por acaso assistí esse vídeo que disponho abaixo, e o receio de expor algo tão pessoal sumiu. Afinal, pra mim é fácil, que sou classe média, pele clara (bem longe de ser branca) e com ensino superior, falar de pequenos capítulos de minha vida que construíram meu caráter. Para Liniker, cantor paulista que virou revelação pelo YouTube, ser preto, pobre e gay não dava coragem pra ser mais nada na vida. Mas ele teve, e é. Usa saia, se maquia e tem uma voz poderosa, que deixa todo o seu exotismo como mero detalhe, perdido entre o seu ritmo e criatividade.


. Respeitar as diferenças em toda a sua unicidade não é fácil, mas é possível. Eu já achei mil coisas e já coloquei mil rótulos em muita gente, mas enquanto não caí em mim e comecei a me reeducar, não pude me livrar dos meus rótulos da infância. E não recebi diploma não, gente! Ainda abro a boca pra dizer asneiras, como bom exemplar de ser humano e produto do meio que sou. Ninguém sai de fábrica com manual, cada ser é único e livre para ser e fazer de si o que bem entender, desde que não atrapalhe ou machuque alguém. Não quer casar nem ter filhos? Quer ter filhos sem casar? Quer viver de luz? Quer ser bailarina numa família de advogados? Quer usar biquini quando todos te acham gordinha? Quer usar salto alto com 1,90 de altura? Quer ser dona de casa? Seja o que quiser, seja feliz. O tempo passa muito rápido pra quem curte cada segundo, imagina pra quem fica de mimimi, se vitimizando, achando problema onde não existe e criticando qualquer passo alheio? Respire profundamente. Viva. O Liniker tá aí pra mostrar isso.

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